Quem não dorme sabe o quanto o sono faz falta. E não há apenas
um tipo de transtorno. Conhecemos mais de setenta transtornos. Definimos estes
como condições caracterizadas por distúrbios dos padrões ou comportamentos
normais do sono. Os transtornos do sono podem ser divididos em três categorias
principais: DISSONIAS, i.e., transtornos caracterizados por insônia ou hipersonia;
PARASSONIAS, comportamentos anormais do sono, e transtornos do sono
secundários a transtornos médicos ou psiquiátricos.
Algumas pessoas dormem mal por fatores orgânicos, como pela
falta de substâncias químicas, que participam dos circuitos neurais
controladores. Sabe-se que a falta de serotonina leva à insônia e a falta de
noradrenalina suprime o sono paradoxal (sonho). Essas deficiências podem também
ser muitas vezes provocadas por ausência de enzimas conversoras ou substâncias
precursoras.
Entretanto, a maioria das pessoas que dorme mal é por origem
externa. Não só pela falta de ritmo próprio na vida, como no caso dos
trabalhadores noturnos, mas também pela quebra do ritmo biológico dos
trabalhadores diurnos, devido às perturbações sociais, o ritmo das cidades, o
grau de exigência do mercado de trabalho, preocupação com filhos, com provas,
com parentes, com tudo.
Mas, com o passar da idade, as pessoas vão acumulando
progressivamente distúrbios sobre o sono noturno e já não conseguem dormir mais
do que seis horas de sono contínuo à noite. Em compensação, passam a cochilar
ao longo do dia. A primeira conseqüência que todo mundo conhece é a perda de
produtividade em geral em todas as atividades. Se o seu trabalho envolve
periculosidade e o mesmo não é logo aposentado, torna-se um operário, mesmo de
turno diurno, de alto risco pelas distrações que comete.
Levantamentos estatísticos mostram que os adultos dormem entre 4
e 8 horas, sem considerar a sua qualidade e sua saciedade. Sabe-se que a
necessidade de sono na pessoa normal e adulta varia com a saúde, tipo de
atividade, personalidade ou fase da vida. Crianças, estudantes, doentes e
intelectuais necessitam de mais horas de sono e sonho. Porém, pessoas
deprimidas, que ao mesmo tempo apresentam hipersonia, podem aprofundar a
doença. Geralmente, quando se dorme menos torna-se menos criativo .
Por outro lado, sabe-se que a regularidade do sono é fundamental
para a saúde. Isto significa ter hora certa para dormir e levantar. Mas, nem no
seu apartamento ou casa o cidadão está livre de incômodos provenientes de
trânsito, vizinhos, obras, igrejas, bares, boates e outras fontes de barulho,
que, considerando sua natureza terrivelmente invasora, sobressai-se mais à
noite devido à queda do ruído ambiental, e toma-se uma perturbação
terrivelmente conflituosa para a maioria das pessoas por impedir um sono
normal.
Milhões de pessoas no mundo recorrem a tranqüilizantes, do tipo
diazepan, ou a outros ansiolíticos, como à bebidas alcoólicas, para tentar
dormir à noite. Mas, a curto prazo perdem o sono paradoxal (sonho), portanto
com sérios prejuízos para a qualidade do sono, e podem apresentar ou
intoxicação ou sedação diurna ou outras formas de efeitos secundários. A longo
prazo, podem ser levados à dependência, a alguma tolerância e, na retirada do
medicamento, à síndrome de abstinência, ou seja, dificuldade de vencer
transtornos terríveis na saúde para tentar se livrar da droga ou do álcool.
Tratamento da insônia primária
A insônia primária é um transtorno multidimensional e seu
tratamento deverá combinar medidas não-farmacológicas e farmacológicas. As
estratégias não farmacológicas incluem a higiene do sono e a terapia.
Em relação à higiene do sono, os pacientes serão aconselhados a
realizar exercícios físicos exclusivamente durante a manhã ou nas primeiras
horas da tarde; comer uma refeição leve acompanhada de ingestão de água
limitada durante o jantar; evitar a nicotina, o álcool e as bebidas que
contenham cafeína (café, chá, infusão de erva-mate, bebidas “cola” e inclusive
o guaraná); providenciar que a cama, o colchão e a temperatura do quarto sejam
agradáveis; regularizar a hora de deitar e levantar; utilizar o quarto somente
para dormir; e manter atividade sexual.
Terapias comportamentais têm sido desenvolvidas durante os
últimos anos para ajudar o paciente com insônia primária. As mesmas se dirigem
a reduzir a ansiedade e a apreensão que, embora em grau reduzido, incidem
marcadamente no quadro clínico. A forma de terapia comportamental utilizada com
maior freqüência é a de relaxamento que compreende uma série de procedimentos,
como relaxamento muscular, meditação transcendental, ioga, biofeedback, etc.
As medidas farmacológicas incluem o uso de hipnóticos. Os hipnóticos
têm ação benzodiazepínica têm muita eficácia mas desenvolvem o que chamamos de
tolerância, e doses maiores são necessárias para obter o mesmo efeito, e este é
um dos caminhos para a dependência. Dai o médico ser fundamental no
acompanhamento do paciente com insônia.
Todos os hipnóticos benzodiazepínicos diminuem o sono de ondas
lentas, o que não acontece com a nova geração de hipnóticos
não-benzodiazepínicos, como o zolpidem, que não modifica a estrutura do sono,
ou seja, não diminui o sono com ondas lentas e o sono REM. A reincidência da
insônia logo após a suspensão brusca do tratamento é muito pouco freqüente com
este segundo tipo de hipnótico, bem como é menor o desenvolvimento de
dependência aos fármacos.
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